quarta-feira, 16 de abril de 2014

Mãe: desmistificação do nascimento- 2

Agora é a vez da xaxia contar a história do nascimento da sua ‘migalha crescida’ =):

Bem, para começar, cá em casa nasce-se à quinta feira.  Uma médica com necessidade de organizar a agenda, aliada a um pai com cagufa de ter que lidar com o "rebentaram-me as águas", fizeram com que todos os nascimentos fossem marcados, ainda que a minha filha mais crescida, lhes tenha trocado as voltas e tenha nascido no dia que estava marcado, mas durante a madrugada e umas antes horas da suposta indução.
Em frente...durante toda a primeira gravidez,  habituei-me a ver a minha obstetra a olhar de lado para mim e a dizer: "bacia mediterrânica, duvido que alguma vez passe aí um bebé".
Não tinha bem a certeza do que aquilo queria dizer exactamente, mas sei que me preparei durante 40 semanas e 2 dias, para a necessidade de uma cesariana.
E como não ia ter um parto normal, não houve qualquer "preparação para o parto". Não houve leituras de livros, nem recolha de testemunhos, nem revistas da especialidade. Não houve nada de nada. A minha preparação para o parto consistiu em depilação, manicure e cabeleireiro (para não ficar com cara de minhoca enjoada nas primeiras fotografias da bebé).
No dia 18 de Janeiro, por volta da uma da manhã, comecei a sentir o que eu achava serem uma dores fortes. Como se repetiam com intervalos regulares (ainda que espaçados), fui para a maternidade. Uma enfermeira fez o "toque", um CTG, e disse-me para ir para casa, que aquilo estava muito atrasado. Para ir no dia 19 às nove, como estava combinado com a médica. Basicamente, esperavam-me mais de trinta horas com aquilo que eu já achava serem dores insuportáveis.
De manhã a coisa até tinha acalmado, mas ao longo do dia foi sempre piorando, e piorando, comecei a perder uma espécie de muco com sangue, e por várias vezes pensei que a miúda ia nascer em casa. Durante a tarde fui ao consultório da médica. Mais um toque, mais um CTG, e um "amanhã às nove, se ficar muito aflita vai para o hospital e liga-me". Daqui entendi que não estava suficientemente aflita, e que ainda ia ficar verdadeiramente aflita (e ia, se ia)
Saí de lá a sentir-me uma mariquinhas ansiosa, e a pensar, que nem que a vaca tossisse, nem que chovessem canivetes, não voltava a incomodar a médica nem a ir para o hospital com falsos trabalhos de parto.
Mas as dores foram sempre piorando, e cada vez saía mais muco ensaguentado (o "rolhão"). Dito-Cujo quis levar-me para o hospital umas cinco vezes, mas eu recusei sempre "nem morta, ir lá outra vez fazer figuras tristes. É amanhã às nove". 
Mas por volta da uma da manhã, vinte e quatro horas depois da primeira ida à maternidade, eu era uma mulher muito grávida aos gritos e a subir paredes com as dores (sim, eram umas trinta vezes piores que as que me tinham feito agarrar na "mala" na véspera), ao ponto de o homem ter que me vestir e calçar. 
Entrei na maternidade quase de gatas,  quarenta minutos depois, mais um toque, mais um CTG, uma enfermeira a perguntar-me há quanto tempo me tinham rebentado as águas (com as dores nem tinha percebido que a bolsa tinha rebentado pelo caminho). 
Poucos minutos depois chegava a minha médica, mais um toque, e um "não faça força que temos que esperar que chegue o pediatra". Comecei a gritar pela prometida epidural, por um tempo que me pareceram horas, mas que Dito-Cujo garante que foram poucos minutos. 
Com a epidural chegou o alívio. E logo depois o pediatra.
E é quando me mandam fazer força. "Faça força quando eu disser". Força? Então não vou para o bloco, para a cesariana?  Hello Drª Paula, bacia mediterrânica, lembra-se?
E depois foi tudo muito rápido, a força que eu fazia não era capaz nem de fazer nascer uma formiga, quanto mais um bebé, e portanto usaram forceps para ajudar. A partir do momento em que levei a epidural, nunca mais tive qualquer dor, mas também não senti o momento em que tinha que fazer força, e nem sequer tinha vontade de a fazer, por isso fiquei impávida e serena a ver a minha bebé a sair-me das entranhas.
Uma linda bebé entre o roxo e o azulado (talvez nas aulas que não frequentei avisem que os bebés nascem daquela cor), que puseram em cima da minha barriga e a quem eu agarrei por um pé, enquanto o pai tirava fotografias para começar a bombardear a família com imagens da miúda mais gira do mundo.
As enfermeiras acharam a "primeira roupa" que eu tinha levado demasiado (sabia lá eu que o primeiro dia ia ser uma primeira noite), e resolveram vestir-lhe um dos pijaminhas rosa.
E é disso que me lembro melhor. Aquela bebé mínima, vestida de cor de rosa, com os olhos mais arregalados do mundo, aninhada nos meus braços, a roubar-me o coração, a engolir-me num amor sem fim, que dura até hoje.
Tão bom, mas tão bom, que repeti mais duas vezes


Obrigada Xaxia por partilhares a tua experiência connosco!

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